Confraria dos 100 Bibliófilos 

22 de março de 2022 Off Por funes

Confraria dos 100 Bibliófilos por José Mota Victor.

 

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data  de 02/04/2021 .

 

A ideia da Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano vinha sendo maturada há muito anos, mas sempre faltava tempo para realização do projeto. A oportunidade surgiu quando finalmente voltei para o Sertão do Pinharas. Era o repouso do guerreiro que enfrentou os mais dramáticos anos de estiagem na Província da Parahyba do Norte. No ano bissexto de 2020, escrevi Não é Proibido Sonhar, discurso de lançamento da 1ª antologia da Confraria: “Exilado por cinco anos de minha terra natal, sair da cidade de Patos para mim é um exílio, convidado pelo Alcaide para assumir a Diretoria de Operação e Manutenção da Companhia de Água, de repente me vi envolvido com sérios problemas de desabastecimento no Estado, devido à grande estiagem que se abatia sobre o Semiárido Nordestino.

Não tinha saída nem tempo, entreguei-me de corpo e alma a obediência aos números, as previsões pluviométricas, as infinitas tabelas, as infindáveis reuniões, aos implacáveis racionamentos, as dezenas de manifestações populares, as péssimas condições de água dos mananciais, a contratação dos laboratórios, os acordos de paz com as cianobactérias, os intermináveis relatórios, as parcerias, as intolerâncias do Ministério Público, as pressões da Polícia Federal, as torturantes audiências, as longas consultas aos mapas de isoietas, as intervenções federais nos rios e mananciais, as inquietações políticas, ao lamento das centenas de rádios, ao dedo em riste das dezenas de televisões e as entrevistas sem fim de inúmeros neófitos. ‘Queria descobrir de que ausências era feito o gosto daquele deserto’, como bem observou Saint–Exupéry em Terra dos Homens, em um dos seus momentos de maior solidão. Finalmente choveu e eu voltei. Quando finalmente avistei ao longe os impávidos Inselbergs que rodeiam minha terra e constatei que o Jabre ainda continuava firme, como uma imponente guarda pontifícia observando a planície verde das Espinharas, caí num sono profundo e sonhei.

Sonhei pequenos sonhos, porque é de pequenos que se constrói uma vida, uma vida nordestina, Severina, como a de tantos Severinos nascidos nas quebradas da Paraíba”. A publicação da Antologia da Poesia do Sertão foi o primeiro passo para consolidação da Confraria dos 100 bibliófilos, dela participaram 27 confrades e confreiras com os mais variados estilos poéticos. No discurso de lançamento da segunda antologia no final de 2020, escrevi que a Confraria tinha “o objetivo de revolucionar o imobilismo cultural da província. Ganhou força com a pandemia quando as pessoas entenderam que a vida não tinha sentido sem o encantamento da arte, sem a ficção dos livros, sem as notas das melodias, sem as cores das pinturas e sem os devaneios do espírito.

A pandemia nos trouxe um novo renascimento, surgiram novos valores, ideais e talentos. As pessoas, apesar de estarem isoladas em suas casas, saíram da prisão imposta pelo mundo moderno e deram o seu grito de liberdade. Precisaram se reinventar descobrindo novas bandeiras para tremular no ocaso da vida. Na estrada onde o caminho se bifurca, pararam para tomar uma sábia decisão: ser feliz.” O projeto da Confraria é de vanguarda, talvez seja o primeiro, no Brasil, que utiliza o WhatsApp como ferramenta para publicação de matérias exclusivamente culturais. No próximo mês de setembro estará publicando a Antologia do Conto do Sertão, com a participação de aproximadamente 40 bibliófilos. Na oportunidade será distribuído um livro-surpresa para todos os sócios, o livro do ano, que está sendo coordenado pelo nosso confrade Evandro da Nóbrega.

 Na programação de 2021 estaremos em 26 de setembro, dia seguinte ao lançamento da Antologia, realizando a primeira Feira de Livros da Confraria. O evento está programado para acontecer no Centro de Cultura Amauri de Carvalho no centro histórico de Patos. Na oportunidade, teremos também uma exposição de quadros dos artistas plásticos da Confraria.

No prefácio da Antologia da Crônica do Sertão, o nosso imortal Flávio Sátiro Fernandes fez um registro histórico: “Patos está a dever à Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano, por mais esta promoção literária, que sobre disponibilizar as crônicas ora publicadas, revela cronistas até então encobertos, seja pela modéstia, seja pelas dificuldades que a muitos se antepõem na divulgação de seus trabalhos.” A Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano veio para ficar. Sem novas vagas, ela teve que criar o “Confrade Especial” para acolher os inúmeros amantes do livro do nosso querido Sertão.