A arte rupestre na Paraíba

A arte rupestre na Paraíba

20 de junho de 2022 Off Por funes

A arte rupestre na Paraíba por  Almair de Albuquerque.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 17/06/2022.

 

O estado da Paraíba é pródigo em sítios de arte rupestre, predominando os de pinturas. Estas são encontradas, em sua maioria, nas paredes rochosas de canyons – localmente chamados de boqueirões, e em paredes e tetos de abrigos ou cavernas. Estima-se que existam mais de 500 sítios com arte rupestre na Paraíba. Entre os principais, podem ser citados: a Pedra do Touro; a Pedra do Gato; a Pedra da Velha Chica; a Gruta do Silêncio; o Abrigo das Emas; a Pedra do Ingá e o Lajedo de Pai Mateus.

Foto: José M. Fernandes Fragoso/Divulgação

A maioria desses sítios arqueológicos apresenta registros rupestres (gravuras e pinturas) estampados em paredões rochosos, distribuídos nos leitos dos rios, vales e serras. Nesses locais, é comum encontrar representações zoomorfas antropomorfas, geométricas, astronômicas e fitomorfas. Destes sítios arqueológicos, apenas a Pedra do Ingá, localizada no município de igual nome, foi tombada pelo Dphan (o atual Iphan), por iniciativa de Pereira Júnior, em 1944, o qual realizou um estudo in loco daquelas inscrições rupestres.

 O conhecimento sobre a existência de registros rupestres no interior da Paraíba é algo que remota ao final século 16. Ambrósio Fernandes Brandão (Diálogos das Grandezas do Brasil, 1618) e Elias Herckmans (Descrição geral da Capitania da Paraíba, 1639), fizeram referência a sítios arqueológicos encontrados. Anos mais tarde, em 1670, os padres capuchinhos franceses Teodoro de Lucé e Martim de Nantes, em missão catequista, dirigiam-se ao arraial de Boqueirão do Carnoió, quando, no caminho, encontraram “no meio de uma grande floresta (…) uma grande pedra de grã da altura de nove pés, larga na base, muito bem talhada, sobre a qual estava gravada a imagem de uma cruz de alto a baixo e na parte inferior havia um globo, ao lado de duas figuras que não podiam ser distinguidas por causa do musgo e, em derredor, uma espécie de rosário gravado”.

O sítio arqueológico descoberto pelo padre Teodoro de Lucé e seu auxiliar encontra-se no território do atual município de Barra de Santana, desmembrado de Boqueirão, em 1994. Trata-se da Pedra do Altar, localizada à margem direita do Rio Paraíba.

Quanto o elemento colonizador adentrou os sertões paraibanos ele foi encontrando vestígios rupestres. Às vezes, quando do requerimento de uma sesmaria, os colonizadores faziam referências a esses vestígios. Assim fizeram o padre Valetim Gonçalves de Medeiros e Manoel Timóteo da Vera Cruz, que em 21 de janeiro de 1759, requereram uma gleba de terra no Seridó paraibano, alegando que a mesma ficava na data da Pedra Lavrada, numa referência expressa às pinturas rupestres que existem nas proximidades da sede daquele município paraibano.

Em diversos municípios paraibanos onde existem vestígios da arte rupestre, os habitantes locais associam tais registros à localidade onde os mesmos são encontrados. Assim, no interior da Paraíba é comum o uso de topônimos como Pedra do Letreiro, Lajes Pintadas, Pedra Lavrada, Pedra do Caboclo, Pedra Furada, Lajedo Pintado etc.

Em 1893, lrineu Jofilly em seu valioso livro Notas Sobre a Paraíba, abriu um parêntese para tratar das inscrições e pinturas rupestres, existentes no território paraibano, afirmando: “Julgamos merecer a mais séria atenção de todos os homens estudiosos, o assunto de que passamos a nos ocupar, referimonos aos letreiros ou inscrições que encontram em grande número de rochedos em toda a Borborema, ou antes, em toda a Paraíba”.

Inúmeros sítios arqueológicos estão sob ameaça de depredação constante, ligadas ao garimpo/mineração de rochas ornamentais, atividade econômica forte em alguns municípios, a exemplo de Pedra Lavrada, Junco do Seridó e Picuí (possuidores de sítios arqueológicos com arte rupestre), e a visitação turística, problema reforçado pela ausência de trabalhos que mostrem à população local a importância dos sítios existentes.