Tarcísio Meira César

Tarcísio Meira César

24 de março de 2022 Off Por funes

Tarcísio Meira César por José Ozildo dos Santos.

 

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 11/02/2022.

 

Tarcísio Meira César, indiscutivelmente, foi a mais poética de todas as personalidades patoenses. Lamentavelmente, duas décadas após sua morte, é um nome quase esquecido, apesar de alguém já ter dito que “sua obra tem uma qualidade real que lhe dá atualidade sem a tornar circunstancial”. Nascido a 21 de junho de 1941, era filho do casal José César Cavalcanti e Maria Rita Meira César. Na cidade de Patos, fez seus primeiros estudos. Em 1955, foi aprovado no exame de admissão ao Ginásio Diocesano, concluindo o curso ginasial em finais de 1958.

 Em princípios do ano seguinte, transferiu-se para o Recife. Na capital pernambucana, perfez o curso secundário no Colégio Padre Félix. Em seguida, aprovado no exame vestibular (1962), ingressou na Faculdade de Filosofia da UFPE, diplomando-se aos 17 de dezembro de 1964. Esforçado, buscando sua independência financeira, Tarcísio Meira César antes mesmo de concluir seu curso superior, tornou-se professor de Língua Portuguesa e Literatura, na Faculdade onde estudava, funções que desempenhou no período de 1963 a 1964, quando passou à condição de professor substituto da cadeira de Metodologia e Técnica de Pesquisa Social (1965). Mais tarde, foi assistente do Catedrático Pessoa de Morais (1968), com quem nutria fortes laços de amizade. Inteligência precoce, “pautou toda a sua curta existência por uma dedicação exclusiva à cultura”. Em 1964, iniciou sua militância no jornalismo, atuando como repórter do Jornal do Commercio (do Recife).

 No ano seguinte, tornou-se redator/repórter especial do Diário de Pernambuco, passando a colaborar vários jornais e revista do país e do exterior. Em 1965, no Instituto de Ciências do Homem da Faculdade de Filosofia/UFPE, em Recife, fez seu curso de Pós-Graduação. Nesse mesmo ano, tornou-se redator e editorialista do Diário da Noite, também editado na capital pernambucana. Espírito culto, amante da poesia e dotado de profundos conhecimentos sobre os clássicos universais, ainda em 1959, ao lado de 13 outros jovens poetas paraibanos, participou da coletânea Geração 59, editada em João Pessoa, pela Secretaria de Educação e Cultura, cuja manifestação artística, constitui-se num “dos movimentos fundamentais da moderna produção literária paraibana”.

 No Recife, por todo o ano de 1968, foi Oficial de Gabinete da Casa Civil, no Governo Nilo Coelho. Em princípios do ano seguinte, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, através da Editora Leitura, publicou Poemas da Terra Estranha, seu primeiro livro, que foi posteriormente renegado, exceto, meia dúzia de poemas que foram republicados em Poemas Grotescos e Outras Fantasias e O Espelho Em Que Terminaras.

 Esses livros “reúnem composições poéticas em que o espírito da Geração 59 ainda se faz presente, com uso frequente do soneto, mas em que aparece uma nova preocupação metopoética: coisa absurda é falar com a poesia / desnuda como o luar e bem mais bela; / como uma petulante caravela / sangrando mares de melancolia”. No Rio de Janeiro, onde residiu por alguns anos, Tarcísio Meira César foi assessor de imprensa da prefeitura daquela capital (1975- 1979), durante a gestão do Dr. Marcos Tamoyo. Ali, foi repórter e redator de O Globo (1972), da Última Hora (1973), da Editora Abril; editor do Diário de Notícias (1976); redator da Coluna Nacional de Heron Domingues (1971); colaborador da Revista Leitura (1964-1975) e do Correio da Manhã (1970), tendo ainda atuado no Jornal Falado Perspectiva (1971) e sido redator do Jornal do Rio, ambos levados ao ar através da TV Tupi, Canal 6. Filósofo, ensaísta, jornalista e poeta, Tarcísio Meira César tinha em si ainda muito a oferecer. Mas, “os desígnios divinos determinaram que ele nos deixasse de maneira prematura”.

Mergulhado num estado de inibição pavloviana, Tarcísio Meira César foi “um gênio que destruiu-se precocemente”, falecendo a 1º de janeiro de 1988, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília (DF). Seu corpo, transladado para a cidade de Patos, foi sepultado no Cemitério São Miguel, no dia 3 seguinte. Patrono da cadeira nº 9 do Instituto Histórico e Geográfico de Patos, em 1997, a Fundação Ernani Sátyro, enfeixou num único e valioso livro toda a sua produção poética, sob o título Poesia Reunida, volume que foi, então, largamente distribuído, e que, por sua vez, enriquece a bibliografia paraibana. Num gesto valoroso e digno de registro, seus familiares doaram ao Instituto Histórico e Geográfico de Patos, todo o seu acervo cultural, composto por 1.263 livros, fotografias, cartas e documentos, que foi rigorosamente catalogado e instalado em sala própria. Por força da Resolução nº 4, de 21 de junho de 2002, a Biblioteca do IHGP passou a denominar-se Tarcísio Meira César.