Patos e a arte urbana
26 de setembro de 2025Texto extraído da coluna FUNES do Jornal A União publicado na data de 26/09/2025.
Ao longo das décadas, Patos tem revelado artistas que marcaram a história das artes plásticas no Sertão paraibano. Embora o grafite e as intervenções urbanas não tenham sido, tradicionalmente, um ponto forte da cidade, sempre houve quem se dedicasse a colorir muros e monumentos, deixando sua marca na paisagem urbana.
Desde Zezinho Pintor, autor de trabalhos importantes como a restauração da Via Sacra da Catedral de Nossa Senhora da Guia, até Perigo Neto, precursor da arte urbana em Patos, com os painéis da antiga rodoviária, a cidade testemunhou diferentes fases de expressão artística. Houve um período em que a arte urbana limitava-se aos letreiros
comerciais e às fachadas de lojas, nas mãos de artistas como Zenildo (conhecido como 18 Pintor) e Anchieta.
A relevância da obra de Perigo Neto, marcada por cores intensas e pela representação da vida nordestina, foi reconhecida oficialmente, em 2022, quando os painéis da rodoviária, completando 50 anos, foram tombados como Patrimônio Cultural Material de Patos pela Câmara Municipal.
Na nova geração, o nome de Francisco José Souto Leite, o consagrado Shiko, ganha destaque. Reconhecido no Brasil e no exterior, Shiko realizou algumas, mas significativas, intervenções em muros da cidade. Sua presença serviu de inspiração para que outros artistas também ousassem experimentar e valorizar a arte urbana em Patos.
Entretanto, a relação da população com esse tipo de arte sempre foi marcada por resistência. Muitos ainda confundiam grafite com pichação e viam as intervenções como ato criminoso. Aos poucos, essa percepção começou a mudar, especialmente com iniciativas de maior impacto, como o Mural da Funes.
Marco da mudança
O divisor de águas para a valorização da arte urbana em Patos foi a criação do mural da Fundação Ernani Sátyro (Funes), iniciado em 2019. Idealizado pelo artista e designer Alex Souto, o projeto reuniu diferentes artistas locais em torno de um propósito comum: transformar os muros da fundação em espaços de memória, identidade e beleza.
As primeiras edições homenagearam os 100 anos de Paulo Freire e as mulheres de Patos. Em breve, está prevista uma
nova intervenção, desta vez dedicada ao patrono da instituição. O mural, renovado periodicamente, não apenas revitalizou a paisagem urbana, como também abriu espaço para novos talentos locais, consolidando-se como símbolo de que o grafite é, sim, arte legítima.
A trajetória da arte urbana em Patos mostra que, mesmo em um cenário inicialmente marcado pela resistência e pelo preconceito, é possível transformar muros em galerias a céu aberto. De Zezinho Pintor a Shiko, passando por Perigo Neto e pelos artistas da nova geração, como Alex Souto, Alano Pereira, Brenio, Frankleison e Roberto, dentre muitos outros, o que se vê é a construção de uma identidade visual própria da cidade. O mural da Funes, nesse sentido, representa não apenas uma mudança estética, mas uma mudança cultural: a confirmação de que a arte urbana é parte viva da memória e do futuro de Patos.