A furiosa 26 de Julho

25 de julho de 2025 Off Por Funes Patos

A furiosa 26 de Julho por José Elton A. dos Santos.

Texto extraído da coluna FUNES do Jornal A União publicado na data de 25/07/2025.

 

Apelidada carinhosamente de Furiosa pelo maestro e professor Valdemir Saraiva, a Filarmônica 26 de Julho vem, ao longo dos anos, ajudando a entender e compreender a dinâmica da região patoense. Tal afirmação se ancora no fato de ter essa banda de música participado de inúmeros momentos: eventos cívicos, sociais, festivos, funerais… enfim, uma série de intervenções que mostra o quanto ela se envolveu e se envolve no cotidiano da cidade de Patos.

Conforme aponta o historiador patoense José Romildo de Sousa, desde a primeira década do século 20, a cidade de Patos já possuía alguns grupos instrumentais, mantidos por lideranças políticas locais. Grupos que na verdade atendiam, muitas vezes, a interesses não meramente artísticos. Mas também foi possível o surgimento de uma nova agremiação musical, a banda do Instituto São José, que, com a chegada do professor e maestro Anézio Leão, oriundo da cidade de Campina Grande, traz a música para aquela casa educacional e inicia a formação de novos músicos.

E, como sempre muito envolvida com o que acontecia, a banda veio a mudar de nome no ano de 1931, passando a se chamar Filarmônica 26 de Julho, em homenagem ao líder político João Pessoa, morto na Confeitaria Glória, em Recife (PE), um ano antes, passando posteriormente a ser mantida pelo Poder Público municipal. Fato que até os dias atuais se verifica, tendo sido apenas incorporado o nome “Municipal”, sendo nominada atualmente de Filarmônica Municipal 26 de Julho.

Conhecida como a capital do Sertão paraibano, Patos sempre foi uma cidade muito dinâmica. Como todos sabemos, uma capital administrativa/política vai se dar por ser esta a sede do poder além de outros atributos. Mas o fato de ter Patos esse título se dá por ser essa urbe um centro comercial, educacional, pela posição geográfica (proximidade com
Pernambuco e Rio Grande do Norte, principalmente), o que colaborou num intercâmbio de culturas e de experiências ímpares. Com isso, Patos também teve que se adaptar aos valores e ícones de modernidade que imperavam no início do século 20. A luz elétrica, o trem, as praças e o coreto são exemplos dessa mentalidade que criava novas fórmulas de interação e dava a Patos um ar de modernidade, criando uma espécie de oásis no Sertão da Paraíba, colocando-a como um centro de desenvolvimento, uma capital no coração da Paraíba.

Assim, seja nos desfiles cívicos, nas alvoradas, nos velórios dos ilustres locais, nas procissões, nas inaugurações ou nas retretas, criou-se um novo modelo de interação e de sociabilidade de sua população, que colocava a música como elemento desses momentos. Afinal, sociabilizar-se ou flertar ao som da filarmônica, seja no coreto ou nas ruas, era algo novo e moderno, criando novos estilos e promovendo novas interações; ainda mais quando essa executava o que era tocado nos rádios ou nas difusoras.

Quando se pensa numa banda de música, muitas vezes, o que se percebe é apenas o fazer musical, com suas performances, ritmos e uniformes. Mas talvez o que não se observe é o fato de ser uma banda de música uma importante ferramenta de formação artística e social para uma cidade; e com a Furiosa não foi diferente.

Grandes nomes, músicos, maestros e arranjadores já compuseram e compõem as fileiras dessa edilidade. Só para se ter uma ideia, artistas como Maestro Chiquito, Lourival Oliveira e José Siqueira contribuíram na história desse conjunto, o que nos mostra o quão rico é o poder de uma banda.

Outo fato de grande importância que deve ser observado é que, estando Patos cravado no interior da Paraíba e sendo os grandes centros os “detentores” das academias de artes e de música, coube a essa banda a promoção e divulgação da música formal (elementos da música, partituras, técnica instrumental, teoria musical…) e a formação de músicos e cidadãos. Esse ensino se dava pela experiência dos músicos antigos que transmitiam seus conhecimentos aos mais novos e perpetuavam a chama da música viva, situação que perdurou com a criação da Escola de Música Francisco Norberto e da Filarmônica Juvenil 24 de Outubro, instituições que formaram não apenas bons profissionais da música como pessoas dos mais diversos seguimentos.

Michel de Certeau, em seu livro A Invenção do Cotidiano, chama de astúcia o fato de alguns se reinventarem e encontrarem meios de sobrevivência. Talvez esse tenha sido um dos maiores atributos dessa banda e que nos ajuda a compreender melhor seu apelido de Furiosa. Que, mesmo diante da modernidade atual, dos modelos e padrões culturais vigentes, ainda permanece atuante, não apenas na história/memória de Patos ou no saudosismo dos mais
idosos, mas no cotidiano dessa cidade.

Seja na Festa da Guia, seja nas inaugurações, procissões, cultos religiosos, nas escolas, na abertura de congressos, nos desfiles, nos festivais culturais, encontroS de bandas ou nas retretas, lá está a Filarmônica 26 de Julho. Uma banda que chora e/ou sorri com a cidade; que interage com sua população, que abrilhanta a sociabilidade e os festejos de sua gente e que se reinventa a cada dia; situação que ratifica sua importância para essa localidade.

Parabéns, Filarmônica 26 de Julho, furiosa da música; que mostra garra não pela força, mas pelo engajamento com sua mãe, Patos. Parabéns e que teu legado seja sempre celebrado pela tua gente, que te reconhece não apenas como patrimônio cultural, mas como uma importante ferramenta educacional, cultural e social.

A Filarmônica 26 de Julho, a Furiosa, foi fundada com esse nome em 1931 em homenagem a João Pessoa