Carrinho de rolimã

Carrinho de rolimã por Ronaldo Queiroz Xavier.

Texto extraído da coluna FUNES do Jornal A União publicado na data de 01/08/2025.

Era meados dos anos 1970, numa rua tranquila do bairro Santo Antônio, encravada na cidade de Patos, Sertão paraibano, uma turma de amigos vivia dias intensos brincando e fazendo travessuras, após as aulas, alguns jovens estudavam no Instituto Dr. João Tavares, outros no Colégio Diocesano e por último no Pedro Aleixo, antigo Cepa.

A Padre Anchieta, rua sem calçamento e saneamento, situada no meio de um declive em ambos os lados, que formava um riacho, onde as águas das chuvas que caíam fazia a alegria dos meninos.

As brincadeiras eram muitas: barra-bandeira; acusado; triângulo; bila; bola de gude; pião; brek; futebol de campo; coruja; pipa; carrinho de rolimã; patinete etc.. Era só imaginação e criatividade

Os meninos se encontravam diariamente na rua. As brincadeiras aconteciam conforme a estação do ano, nossos brinquedos eram todos artesanais.

Os sonhos de criança começavam a florir, quando surge a ideia dos carrinhos de rolimã, patinete. As dificuldades eram muitas, não tínhamos dinheiro, mas tínhamos alegria e perseverança.

A febre dos carrinhos de rolimã tinha chegado ao Brasil, no fim da década de 1960 e início da década 1970, na região Sudeste, no eixo Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.

O carrinho de rolimã ou patinete, devido a sua praticidade na fabricação, usava materiais reciclados. Nas oficinas mecânicas localizadas no campo do rato, conseguíamos os rolamentos usados retirados dos carros, e, nas marcenarias, as tábuas e madeiras para o eixo e guia, tudo era difícil.

A história do carrinho de rolimã está inspirada nos antigos carrinhos de mão ou carrinhos de feira. Surgiu a invenção da roda como forma de deslocamento, transporte de carga, condução de materiais, produtos manufaturados e armas de guerra, etc. Sua origem data de 3.500 a.C., na antiga Mesopotâmia.

A invenção da roda trouxe para a humanidade desenvolvimento e progresso.

O carrinho de rolimã é composto por um pedaço de madeira rústico, de eixo móvel na frente para controlar a direção nas descidas da ladeira em asfalto ou calçadas. O freio sendo um pedaço de madeira fixado ao lado da prancha de assento. Nas descidas, o atrito das rodas rolimãs no asfalto ou calçamento provocava faíscas e pequenas fagulhas.

As brincadeiras se tornaram hábito na calçada da usina de algodão de Severino Lustosa, localizada entre as ruas do Prado, Peregrino de Araújo, São José, Pref. Oscar Torres, que ocupava um quarteirão e tinha uma excelente descida na parte de trás da usina localizada na Rua Peregrino de Araújo.

Os carrinhos de rolimãs eram rústicos e as quedas eram constantes, com as derrapadas que provocavam peladuras. Éramos felizes.

As queixas e reclamações eram constantes por parte dos vizinhos, quando chegávamos para brincar nas calçadas, onde quase sempre éramos mandados embora.

O tempo passou e, como toda tradição, foi sendo esquecida, perdendo espaço e importância no cotidiano.

Com a chegada dos brinquedos eletrônicos, boa parte das brincadeiras de rua começaram a ser esquecidas.

Com a pandemia da Covid-19, no mundo e se espalhando pelo Brasil, provocando mortes e isolamento social, no dia 20 de março de 2020, o amigo de infância Fábio pediu a Josivaldo que fizesse um carrinho de rolimã, patinete para relembrar os bons tempos, e os dois foram testar na Alça Sudeste, batendo o sentimento e as lembranças dos tempos de criança.

O carrinho de rolimã se tornou um ícone da cultura de rua nos mais diversos lugares, representando criatividade e diversão.

Em Patos, há cinco anos, um grupo de amigos de infância e centenas de famílias se reúnem todos os sábados na Alça Sudeste para reviver os bons tempos dos carrinhos de rolimã, fazendo parte do calendário cultural da cidade, numa versão atual e tecnológica, sempre às 16h, para brincar.

Atualmente, a brincadeira na Alça Sudeste já conta com mais de 50 carrinhos e dois trenzinhos, onde a diversão é gratuita.

Enfim, uma diversão que estava adormecida e esquecida, o carrinho de rolimã, vive e revive seus melhores tempos em pleno século 21, em nossa cidade de Patos.

Carrinhos de rolimã são atração nos sábados da cidade de Patos