Do pau-de-sebo ao palco gigante

7 de julho de 2025 Off Por Funes Patos

Do pau-de-sebo ao palco gigante por Roberta Livia Figueiredo.

Texto extraído da coluna FUNES do Jornal A União publicado na data de 04/07/2025.

 

Patos, cidade do coração do Sertão paraibano, carrega nos seus festejos juninos uma memória afetiva que pulsa mais forte a cada mês de junho. A festa, que antes se estendia pelas ruas do Prado, do Forte, da Espinharas e pelos terreiros das casas, transformou-se ao longo do tempo em um dos maiores e mais importantes eventos culturais do Nordeste. O São João de Patos modernizou-se, cresceu, atrai multidões, mas manteve seu vínculo com o povo e com as tradições que o viram nascer.

O livro do escritor José Romildo de Souza, produzido com apoio da Fundação Ernani Satyro, é uma verdadeira viagem no tempo. Nele, conhecemos o surgimento das quadrilhas, dos casamentos matutos, da queima de fogos e das manifestações espontâneas, ainda na década de 1950, quando o São João já ocupava escolas, ruas da cidade. Os bailes no Colégio Rio Branco, as festas do milho e o Forró do Minhocão tornaram-se ícones de uma cultura junina que resiste ao tempo.

O Terreiro do Forró, instituído oficialmente em 2005, firmou-se como espaço central das festividades. Em 2024, foi apresentado um projeto de revitalização com mais de 100 mil m² de estrutura permanente.

Entre os dias 19 e 23 de junho, Patos voltou a vibrar ao som da sanfona. A programação contou com grandes nomes da música nacional como Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, Bruno & Marrone, Wesley Safadão, Zezo Potiguar e Natanzinho. Mas o brilho local foi igualmente potente, com artistas como Isabela Fernandes, Hanny Mendonça, Hudson, Markito e Mariah Sanfoneira dividindo o palco com os gigantes da indústria fonográfica.

A Vila São João foi um dos pontos altos da festa. Cenários principalmente com o coreto decorado, quadrilhas estilizadas, casamento matuto encenado com humor e crítica social, e a presença do artesanato local deram vida a um espaço onde a memória não é apenas preservada, mas revivida com beleza e respeito. As quadrilhas encantaram o
público com cores vibrantes, coreografias criativas e um profundo enraizamento na identidade sertaneja.

O momento mais comovente da edição de 2025 foi a homenagem a Pinto do Acordeon, sanfoneiro que durante décadas abriu o São João de Patos. A Orquestra Sanfônica executou a música “E viva Pinto do Acordeon”, composta por José Romildo, enquanto imagens e declamações relembravam sua trajetória. Também houve exposição em escolas, apresentações cênicas e tributos em diversos palcos. Pinto, que dizia que “sua vida era o palco e o povo”, foi lembrado com carinho e saudade.

O evento deste ano movimentou cerca de R$ 150 milhões na economia local, com impacto direto no comércio, hotelaria, turismo, gastronomia e cultura. A parceria público-privada com a Coollab Creative garantiu uma estrutura segura, acessível e profissional. Mais do que uma festa, o São João de Patos consolida-se como uma potência cultural e econômica do interior da Paraíba.

O São João de Patos é festa, é resistência, é poesia. Ele não apenas enche ruas: toca memórias, fortalece raízes e impulsiona futuros. É o tempo que dança sob a luz das fogueiras, em que o ontem encontra o agora e anuncia um amanhã vibrante. Que venham os próximos junhos. Que venham os novos arrasta-pés. Porque quando o forró começa, Patos inteira dança e o tempo também.

Lenda
O momento mais
comovente da edição
de 2025 foi a
homenagem a Pinto do
Acordeon, sanfoneiro
que durante décadas
abriu o
São João de Patos.