A Procissão dos Homens

23 de março de 2022 Off Por funes

A Procissão dos Homens por José Romildo de Sousa

 

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 03/09/2021 .

 

Como acontece desde 1954, portanto há 67 anos, toda quinta-feira da Semana Santa a população masculina do município de Patos se concentra em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição – a 1º edificação da Urbes –, localizada na praça Edivaldo Mota para, a partir da meia-noite, sair dali em caminhada pelas principais avenidas da cidade cantando e orando e, assim, participando do singular evento religioso mais conhecido como A Procissão dos Homens. Apenas nos últimos dois anos, a procissão deixou de acontecer, em virtude da pandemia da covid-19.

A Procissão reúne uma grande quantidade de devotos e algumas das nossas mais conhecidas figuras, que sempre fizeram a maior questão de não faltar ao compromisso da meia-noite da Quinta-feira Santa, entre eles, podemos relembrar de Zezinho Pintor, Beca Palmeira, Fernando Soares, José Gayoso, Antônio Tranca-Rua, Codó, Rubens Palmeira, Nego Côco, Zé Neves, Afonso do Posto, Zequinha, Zé do Motor, Eudim do Tiro de Guerra, Carreiro, Bacalhau, e Antônio Rafael. Um dos fundadores da Procissão dos Homens, Vigolvino – o Grande – que por muito tempo foi também sacristão, revelou que no início, toda quinta-feira da Semana Santa, juntava-se com alguns adeptos do ping-pong e ficavam jogando na sede da Ação Católica, instituição religiosa que ficava localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Guia.

 Lá pelas tantas, quando as pessoas se recolhiam para dormir e as ruas ficavam completamente desertas, eles iam até à Igreja da Conceição, pegavam o Senhor Morto e o traziam para a Matriz Diocesana. Com o passar do tempo, segundo Vigô o número de participantes foi aumentando consideravelmente a cada ano. Em uma determinada ocasião, a multidão já se tornava quase incontrolável. Nesta oportunidade, ocorreu que alguns populares resolveram ir buscar o Caixão do Senhor Morto mais cedo que o previsto. Houve então um começo de tumulto, que foi controlado, após muito diálogo. Devido esse acontecimento, a Igreja resolveu assumir, em definitivo, a Procissão.

Naquela época, dirigia os destinos religiosos de Patos o Padre Francisco de Assis Sitônio, que foi vigário da Matriz de 1953 a 1959. Os demais precursores da Procissão dos Homens foram: Valdim de Mizael, que era músico da Filarmônica 26 de Julho; Faustino Viera, que trabalhou em Batista Tecidos, Fernando Mocinha e Eduardo, este último proprietário do Buffet São Jorge. A Procissão, como de costume, sai impreterivelmente à meia-noite da Igreja da Conceição. O carro batedor da polícia segue na frente, os fiéis atrás vão se revezando no transporte do andor e acompanhando os cantores, que vão no carro de Fernando Som: “Perdão Meu Jesus / Perdão Deus de Amor / Perdão Deus Clemente / Perdoai Senhor”. Deixando a Igreja da Conceição o Cortejo dobra à direita e pega a rua do Prado. Passando em frente ao antigo prédio onde funcionou o Cine São Francisco, a multidão dobra à esquerda e desce pela 26 de Julho. Na confluência das ruas Espinharas, Porfírio da Costa (o herói de Patos na Guerra do Paraguai) e a 26 de Julho (onde morou Manduri), bem em frente à residência de Sebastião Soares e a oficina de Benildes acontece a primeira parada para orações e meditações. Virando a esquina, onde se encontra a bodega de João David, a Procissão percorre a Rua 18 do Forte.

 Ao atingir a Irineu Joffily para retornar a avenida do Prado ocorre a segunda parada. Dando sequência, os fiéis ingressam na Leôncio Wanderley e, quando vão chegando ao antigo mercado, bem em frente à entrada do Beco do Cruzeiro, mais uma parada, a terceira. No final da Leôncio Wanderley, a Procissão continua e passa entre a Estação Ferroviária e a Praça dos Pombos (atual edifício do Senac). Beirando a linha de ferro, chegam à rodoviária e aí se dá a quarta parada. Seguindo adiante, a multidão passa em frente ao Posto Apolo XI e sobe a ladeira da Floriano Peixoto.

 No encontro desta com a Pedro Firmino, se faz a quinta e última parada. O cortejo segue e desce pela Peregrino Filho, até chegar a Catedral onde o Vigário da Diocese os espera para as últimas orações. Nas primeiras procissões, lembra Mazinho de Zé Conrado, um dos seus assíduos frequentadores, existia uma grande concorrência entre as pessoas que se dispunham a sair conduzindo as barulhentas matracas, a fim de irem acordando os adeptos da caminhada religiosa. Neste ofício se destacavam: Odilon Nicácio, Martinho e Zé Gomes e o próprio Mazim. Com a consagração do evento as matracas foram aposentadas, não precisavam mais sair às ruas acordando os homens para a Procissão. Lembra ainda o ex-atleta do Esporte Clube de Patos que, naquele tempo, o motor da luz que deixava de funcionar por volta das 23h, na noite da Procissão ficava trabalhando até mais tarde, dando tempo, inclusive, para que os participantes do evento retornassem aos seus lares. Encerrada a Procissão e feita as últimas orações, o Senhor Morto é levado para o interior da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Guia, localizada na rua Sólon de Lucena, onde tem início um dos momentos mais esperados pelos participantes da caminhada: a retirada das relíquias.

Os devotos se comprimem em volta do Senhor Morto e travam uma grande disputa na busca de conseguir uma flor, uma rosa, um cravo, ou mesmo uma pequenina folha de um ramo que ornamentavam o caixão e que será guardado com muito carinho, respeito e devoção. A Procissão dos Homens, originária da cidade de Patos, nasceu da necessidade de trazer o Caixão do Senhor Morto (que permanece durante todo o ano na Igreja da Conceição) para a Matriz de Nossa Senhora da Guia, de onde sai toda Sexta-feira Santa, a partir das 17h, acompanhado por uma grande quantidade de paroquianos que vão reverenciando a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na perspectiva da sua ressurreição. Esta Procissão, a da sexta-feira, tem o seu encerramento na Igreja da Conceição, onde o senhor morto fica exposto em adoração até às 21h e, em seguida, é por ela acolhido para ali permanecer, por mais um ano.