Cruz da Menina: religiosidade e turismo em Patos

Cruz da Menina: religiosidade e turismo em Patos

22 de março de 2022 Off Por funes

Cruz da Menina: religiosidade e turismo em Patos por Damião Lucena

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 21/05/2021 .

 

Prestes a completar um século da morte de Francisca, crime bárbaro atribuído a Domila Araújo e Absalão Emerenciano, o Parque Turístico Religioso Cruz da Menina passa por uma ampla reforma, patrocinada pelo Governo do Estado, e permanecerá fechado ao público até a conclusão do serviço. Segundo as estatísticas, são cerca de 100 mil visitantes por ano, provenientes de várias partes da Paraíba, do Brasil e de outros países.

Muitos são os ex-votos, ali depositados, como referências de graças alcançadas. Rememorando a História Na década de 20, no século 20, chegava a Patos um casal campinense: Absalão Emerenciano e Domila Araújo, trazendo consigo uma criança, filha de retirantes e conhecida apenas por Francisca.

A menina lhes fora dada, em uma das maiores secas da história, como única forma encontrada por seus pais para livrá-la da fome que assolava as famílias nômades, as quais viviam em um verdadeiro estado de miséria. Absalão teria na capital do Sertão da Paraíba uma importante missão a cumprir: executar o funcionamento do motor que fornecia energia para toda a cidade. Sua esposa, por sinal uma mulher de beleza invejável, trazia consigo um gênio forte e desumano. A criança, responsável por grande parte das tarefas de casa, vivia em uma espécie de prisão e era, constantemente, espancada. Em 10 de outubro de 1923, por volta das 18h, cumprindo uma trajetória diária, Domila saiu ao encontro do esposo, alertando Francisca a dormir após lavar a louça.

Por alguns instantes, atraída pela algazarra da meninada, a inocente contemplava as brincadeiras da janela e, ao se dirigir a rede, esquece de fechá-la, fato utilizado por sua algoz para espancá-la de forma brutal, utilizando-se da trave de madeira usada como taramela, culminando com o massacre. Em plena madrugada, o corpo era desovado na fazenda Trapiá, o qual só seria localizado dois dias após, já em estado de decomposição.

O reconhecimento fora feito na delegacia e enquanto o casal tentava se livrar da responsabilidade, a sociedade não tinha dúvidas da autoria. Não suportando a revolta popular, os dois retornam a Campina Grande. Somente 11 anos após o crime o processo veio a ser desengavetado, com a consequente prisão e julgamentos, em três ocasiões, com a absolvição pelo Tribunal do Juri, sem o convencimento da população. Romaria e a beatificação popular No ponto onde o corpo de Francisca fora encontrado, pelo agricultor Inácio Lazário, foi colocada uma cruz, atraindo populares. José Justino do Nascimento, em passagem pelo local, fez orações e apelou aos céus o retorno das chuvas.

Com a graça alcançada construiu a pequena capela, inaugurada em 25 de abril de 1929. Em 24 de outubro de 1993, o governador Ronaldo Cunha Lima inaugurou o Parque Turístico Religioso Cruz da Menina, composto de anfiteatro, cobertura em forma de pirâmide que protege a parte central onde estão a capela e duas salas de ex-votos, um restaurante, dez lojas de souvenir, um Cruzeiro e espaço para a administração.

No mês de dezembro de 2007, foi instalado na Fundação Ernani Sátyro o Comitê Pró-Beatificação da Menina Francisca, tida pelo povo como santa, durante solenidade que teve lugar no auditório Emília Longo, com a participação das seguintes entidades: Associação de Imprensa do Sertão da Paraíba, Instituto Histórico e Geográfico de Patos, Secretaria de Educação do Município, Grupo Independente de Análise e Ação Social, Universidade Federal de Campina Grande, Universidade Estadual da Paraíba, Faculdades Integradas de Patos, Fundação Ernani Sátyro, Fundação Allyrio Meira Wanderley e VI Gerência de Cultura.

Na oportunidade, o Sr. Luiz Araújo prestou o seu depoimento sobre uma graça alcançada através da mártir Francisca, enquanto o padre Fábio de Abreu, da Paróquia de N.S. de Fátima falou sobre canonização, no que tange aos trâmites rumo a santificação. Naquele período, o então bispo da Diocese de Patos, Dom Manoel dos Reis de Farias, já manifestava a posição da Igreja Católica com relação ao assunto: “A religiosidade característica do povo nordestino é algo muito positivo. O homem tem necessidade do Pai por natureza. Ao ponto em que essa manifestação é vista com bons olhos, passa também a existir uma preocupação da Igreja para que ninguém confunda as coisas, substituindo o Criador por um ente terrestre.

Qualquer meio propício de encaminhamento do homem a Deus deve ser aprovado e estimulado. O acontecimento é algo muito forte, principalmente com as graças alcançadas por muitas pessoas. No tocante ao termo milagre não afirmo com segurança, mas em momento algum descarto a possibilidade, havendo a necessidade de uma investigação no campo científico para embasar um possível processo de beatificação junto ao Vaticano”.