Um olhar sobre Os Rufinos: a identidade quilombola em Pombal

Um olhar sobre Os Rufinos: a identidade quilombola em Pombal

25 de março de 2022 Off Por funes

Um olhar sobre Os Rufinos:  a identidade quilombola em Pombal por Thiago Batista Rufino.

 

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 25/03/2022.

 

No Brasil, o quilombo marcou sua presença durante todo o período escravista, e existiu praticamente em todas as regiões do país, onde foi a principal forma de revolta, protesto e resistência ao regime escravocrata imposto pela sociedade elitista e com raízes europeias. Foi um fenômeno de fuga ao sistema de escravidão no qual os negros eram submetidos com sua força braçal, onde não tinham liberdade, colocando em risco a sua sobrevivência biológica. Portanto, a partir do momento que os negros passaram a viver em quilombos, a sua mão de obra é voltada para a subsistência individual ou coletiva, alcançando assim, autonomia das suas forças produtivas para sobreviver.

A comunidade quilombola Os Rufinos é um berço cultural no município de Pombal (PB), pois vários membros da família tem uma história, identificação junto aos grupos tradicionais folclóricos da cidade, como Os Pontões e A Irmandade do Rosário. O grupo religioso também denominado como Confraria dos Negros do Rosário, foi criada no século 19 na época do Brasil colonial, tendo como objetivo a organização dos negros devotos de Nossa Senhora do Rosário, levantando recursos por meio da organização em grupo, a Irmandade do Rosário comprou alforrias de escravizados no período escravista e também realizou diversos enterros dignos aos irmãos negros da Confraria, como relata o escritor e pesquisador Jerdivan Nóbrega de Araújo, na sua obra A Irmandade dos Negros do Rosário de Pombal-PB.

 A Irmandade do Rosário em Pombal foi fundada pelo negro Manoel Cachoeira, em que a historiografia relata que o mesmo precisou viajar três vezes a pé de Pombal até Olinda (PE) para conseguir a permissão com o Bispo D. João Fernandes Tiago Esberardi, sendo reconhecido pela Igreja Católica apenas em 1895. Relatos de membros mais antigos e pesquisas historiográficas recentes retratam que a fundação do grupo religioso teria sido bem antes dessa data, provavelmente até antes de 1800. Assim, percebemos a importância e a contribuição dos negros na formação cultural e social da Terra de Maringá, onde Os Rufinos deram a sua contribuição por meio de muitos membros que fizeram parte durante todo esse tempo da constituição e tradição da Irmandade dos Negros do Rosário.

As experiências vivenciadas e as histórias contadas pela oralidade para os mais novos dão sustentabilidade e consciência da identidade dessa comunidade, proporcionando o zelo, o cuidado pela conservação dos costumes, tradições e valorização da sua cultura. Tais traços de hereditariedade espontânea são vistos em diversos aspectos e manifestações de boa parte de seus membros, nos quais observamos na herança do artesanato em barro, atividade essa que vem sendo repassada de geração para a geração, dos mais velhos para os mais novos.

Na participação nos grupos tradicionais de dança como Os Pontões, percebe-se o interesse e envolvimento desde cedo dos mais velhos em ensinarem e incentivarem a juventude a ganhar gosto pela prática e envolvimento direto na atividade cultural. Após o reconhecimento legal da comunidade como quilombo remanescente, é notório a forma de organização e seriedade como são encaradas essas práticas cotidianas, fazendo com que Os Rufinos possam passar pelo processo de empoderamento de suas ações sociais, seja do ponto de vista individual ou coletivo, mesmo enfrentando falta de incentivos públicos essenciais, a comunidade vem ganha força e voz em prol de sua organização social, cultural e política.