A professorinha Antonieta

1 de abril de 2024 Off Por Funes Patos

A professorinha Antonieta Por Damião Lucena.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 22/03/2024.

Antonieta Vieira Azevedo nasceu no dia 26 de outubro de 1913, na cidade de Patos, como filha de Rochael Pedro de Azevedo e Teodolina Vieira de Azevedo (Dona Deolinda), tendo como irmão Pedro Vieira. Iniciou os estudos primários na escola regida pela professora Maria Amélia Cabral Pinto, filha da primeira professora pública da cadeira feminina de Patos, Maria de Azevedo Cabral que, por sinal, era sua tia.

Antonieta Azevedo teve atuação importante na área da educação em Patos

Ainda jovem, Antonieta, que fazia parte de uma família de educadores, era também prima do professor Alfredo Lustosa Cabral – tornou-se professora de primeiras letras, ministrando suas aulas na própria residência, inicialmente na rua Epitácio Pessoa e mais tarde na rua Roldão Meira. Seu pai, que trabalhou na construção da linha férrea, fora assassinado no distrito de Salgadinho, enquanto seu irmão, após trabalhar no comércio de Patos e ter sido sacristão do padre Fernando Gomes, rumou para Candeias, Minas Gerais, na década de 1950, onde se casou com a filha de um médico renomado e gozou de elevado prestígio, chegando a ter o seu nome lembrado para disputar a prefeitura e chegando a presidir um clube de Rotary.

Durante o governo do interventor Argemiro de Figueiredo, por pleito do saudoso Noé Trajano, presidente da União Beneficente de Artistas e Operários de Patos, Antonieta foi nomeada professora pública estadual e passou a exercer a referida função em uma sala cedida pela própria entidade. Daí em diante se transformaria em um referencial no setor educacional, responsável pela formação de várias gerações, inclusive após a aposentadoria, quando manteve um espaço particular.

Entre os seus alunos que alcançaram projeção estava o saudoso Neó Trajano, que chegou à aposentadoria na condição de juiz de direito que em um de seus livros fez as seguintes referências à estimada mestre: “Antonieta era muito jovem, quase menina, quando perdeu seu pai. Ficou sozinha, na companhia de sua mãe, Deolinda, parenta do senhor António Fragoso, comerciante de tecidos em Patos e pai do Dr. Oscar Vieira. Quando jovem, era muito bonita. Mesmo assim, nunca frequentou bailes e nunca dançou. Teve um ligeiro namoro com o Dr. Ernani Sátyro, logo que ele se formou. Dizem, inclusive, que a personagem Maria Augusta, que ilustrou o romance Quadro Negro, publicação que imortalizou o político, foi inspirada em Antonieta que, depois, foi noiva de um rapaz, chegado do Ceará, bem-sucedido no comércio. O noivado foi desfeito por desentendimento do pretendente com Deolinda, mãe de Antonieta, por ser o rapaz moreno. O ex-noivo foi embora para Fortaleza e dizem ter se tornado um homem rico, que também não casou”.

A música de Antônio Emiliano, lançada em 1971, na voz de Cândida Maria, que por pouco não acabou se transformando no Hino de Patos, em sua letra, trazia uma referência à educadora que, com sua simplicidade e modo de proceder, seria imortalizada na capital do Sertão da Paraíba. “Patos dos meus tempos” foi a terceira colocada no Primeiro Festival Patoense de Música Popular. Eis o trecho: “Minha primeira escola/ A banda e a retreta/ e a professorinha Antonieta”.

Dr. Evandro Ayres, que foi também seu aluno, filho de Patos, e que exerceu o cargo de prefeito de Fortaleza, quis homenageá-la na capital cearense, oferecendo-lhe passagem e hospedagem, mas viu-se impossibilitado de realizar o seu desejo, porque a homenageada, por razões superiores, não compareceu.

Antonieta sempre gostou de criar gatos e se levantava muito cedo, para cuidar dos afazeres de casa, quando sua mãe morreu. Sempre costumava dizer: “Se vocês passarem na minha rua, às nove horas da manhã e minha porta não estiver aberta, podem botá-la abaixo, que eu estou morta”. Foi exatamente o que aconteceu em um domingo, 18 de dezembro de 1987, quando contava 74 anos de idade. Seu corpo foi sepultado na tarde do mesmo dia no cemitério São Miguel, no bairro Belo Horizonte.

Uma das homenagens prestadas após seu falecimento teve a iniciativa da Fundação Ernani Sátyro, escolhendo o seu nome para a calçada da leitura, instalada no pátio da entidade.