A descaracterização das festas de São João no Nordeste

30 de junho de 2025 Off Por Funes Patos

A descaracterização das festas de São João no Nordeste por João Batista Antunes.

Texto extraído da coluna FUNES do Jornal A União publicado na data de 27/06/2025.

 

As festas de São João sempre foram um dos pilares da identidade cultural do Nordeste brasileiro. Enraizadas na tradição popular, essas celebrações unem religiosidade, agricultura e os costumes do sertão, expressando, de forma vibrante, a alma nordestina. Contudo, nos últimos anos, tem-se assistido a um preocupante processo de descaracterização desse patrimônio imaterial.

O forró pé de serra, com seus trios de sanfona, zabumba e triângulo, além das quadrilhas, comidas típicas e rituais juninos, tem sido progressivamente substituído por espetáculos comerciais com artistas vindos principalmente do eixo Sul–Sudeste. Essas atrações, por vezes, destoam completamente da essência junina, impondo repertórios que pouco dialogam com a tradição nordestina.

Essa transformação revela uma lógica mercantilista que prioriza o apelo midiático em detrimento da cultura local. O São João, antes celebrado em praças públicas com participação ativa da comunidade, cede espaço a grandes estruturas, camarotes pagos e festivais com foco no lucro, esvaziando o sentido original da festa.

Outro aspecto preocupante é a padronização dos festejos. O que antes era uma celebração com sotaques e cores próprios de cada cidade ou comunidade, torna-se cada vez mais um evento genérico, voltado ao turismo de massa. Essa homogeneização cultural ameaça a diversidade das expressões regionais e afasta a festa de suas raízes populares.

Tradição
As festas de São João
sempre foram um dos
pilares da identidade
cultural do Nordeste
brasileiro,
expressando de forma
vibrante a alma
nordestina.

Resgatar o verdadeiro espírito junino implica mais do que nostalgia; trata-se de um ato de resistência cultural. É necessário fomentar políticas públicas que incentivem a valorização de artistas locais, a preservação das tradições nas escolas e o apoio às manifestações culturais autênticas. A festa junina deve continuar a ser um espaço de memória, partilha e identidade.

O São João do Nordeste é feito de fogueira acesa, música de raiz, dança de roda e comunhão. Não de palcos imensos, cachês exorbitantes e playlists alheias à tradição. Defender a sua autenticidade é garantir que as novas gerações conheçam e celebrem o que há de mais genuíno na cultura popular nordestina.

“O forró pé de serra tem sido progressivamente substituído por espetáculos comerciais com artistas vindos principalmente do eixo Sul–Sudeste”