A história dos quadrinhos em Patos (PB)

A história dos quadrinhos em Patos (PB)

22 de abril de 2022 Off Por funes

A história dos quadrinhos em Patos (PB) por Alex Souto.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 22/04/2022.

 

No campo das artes plásticas, Patos teve artistas de talento incontestável, a exemplo de Zezinho Pintor em anos passados e Murilo Santos, na atualidade. Porém na arte dos quadrinhos nunca tivemos documentado o material produzido por muitos artistas do passado e os representantes atuais na área da arte sequencial no Sertão.

No livro A incrível história dos quadrinhos – 20 anos de HQ da Paraíba (1983), de autoria do professor da UFPB e jornalista Henrique Magalhães, não há nenhuma citação referente a qualquer quadrinista patoense. O livro cita artistas até de Pombal e Sumé, mas em Patos nada tinha sido catalogado até então.

Um dos precursores dos nossos quadrinhos, registrado com material impresso e publicado, foi o jornalista Damião Lucena, com o famoso livreto da Cruz da Menina, desenhado por ele mesmo, reproduzido em fotocópias no início dos anos 1990 e, ainda hoje, encontrado à venda no parque religioso Cruz da Menina. Alguns registros de jornais antigos, muitos editados no período da Festa da Guia, a tradicional festa da padroeira de Patos, apontam a existência de ilustrações, charges e caricaturas, mas em nenhum periódico foi encontrado tirinhas ou HQs na sua denominação de arte sequencial, que são as figuras justapostas e indicando sequência de acontecimentos. Somente no pequeno folheto da Cruz da Menina foi apresentada uma história em quadrinhos propriamente dita. Esse folheto em quadrinhos posteriormente foi redesenhado e reeditado em parceria com o autor deste texto, no ano de 2007, resultando até em uma exposição itinerante com as páginas da história em forma de painéis de um metro de altura, conferindo um feito inédito até na história dos quadrinhos paraibanos. Antes dessa obra, é difícil catalogar a produção de HQs em Patos, pois se existiu, não foi publicada ou documentada.

O período de maior produção artística de quadrinhos aconteceu nos anos 1990 com as primeiras publicações em fanzines (literalmente revistas “feitas por fãs”) e as colaborações de artistas patoenses em revistas de rock de São Paulo, através de suas seções de correspondência. A revista Dynamite, uma publicação dedicada às notícias sobre rock’n’roll, abriu espaço, na época de 1992 a 1994, para artistas de qualquer lugar que quisessem publicar quadrinhos e nela destacaram-se três desenhistas patoenses: eu, Shiko e Aécio Fernandes. Não havia pagamento, mas o simples fato de estar publicando em revistas de circulação nacional já compensava o trabalho.

Nesse mesmo período, Hélio Barbosa, hoje jornalista, era colaborador de um fanzine gaúcho chamado Necrofilia Zine. O contato com os editores aconteceu por meio da revista Rock Brigade, da mesma maneira: na seção cartas. Os desenhos também eram enviados via Correios em carta comum. Outra colaboração do desenhista Hélio Barbosa foi para o Caganeira Zine, de Petter Baiestorf, editor de dezenas de fanzines dedicados ao rock em Santa Catarina e atualmente um dos diretores da produtora Canibal Filmes.

Em 1993, o fanzine de quadrinhos Disorder foi lançado com a participação de Alano Pereira, outro grande artista em início de carreira. O fanzine editado por Aécio Fernandes, e Shiko era confeccionado em fotocópias e texto datilografado, com opiniões sobre política, crítica social e quadrinhos. Jozélio Oliveira, hoje proprietário do Infernus Bar, em Patos, despontava como roteirista dos desenhos de Alano.

No decorrer do final dos anos 1990 até hoje, Shiko obteve um destaque fenomenal da sua arte, fruto de muito trabalho e dedicação que lhe valeram reconhecimento nacional e internacional. Eu publiquei em várias revistas nacionais e estrangeiras de quadrinhos, colaborei em livros e revistas sobre animação, e meu trabalho como designer gráfico sempre remete a ilustração, criando mascotes e personagens para publicidade. Alano é um renomado tatuador, com nome consolidado no meio artístico. Desses, somente Aécio não exerce a profissão de ilustrador ou continuou envolvido com trabalho artístico, sendo atualmente enfermeiro residente no estado de Alagoas.

Muitos outros desenhistas produziram material sem, no entanto, chegar a publicar e também nem só de homens viveram os quadrinhos patoenses. Um pouco mais tarde, mas ainda na década de 1990, Rafaella Ryon também começou a se destacar com ilustrações inspiradas nos traços japoneses e chegou a publicar um fanzine próprio com quadrinhos e poesias ilustradas. Rafaella hoje produz ilustrações editoriais e cria jogos eletrônicos.

Festivais de fora inspiraram a criação do Festival Sertão HQ, no ano de 2016, com a produção minha, junto de Roberto Nascimento e Aurélio Filho. O evento já conta com quatro edições realizadas entre Patos e Coremas. Através do festival, foram descobertos novos artistas, a exemplo de Francisco APS e Leandro Kinomoto.

Outros artistas de destaque são Junior Misaki, autor de livros infantis, e Aurélio Filho, das coletâneas Nanquim Arretado e, mais recentemente, da HQ Dois Nordestinos do Ritmo.