A poesia de Augusto dos Anjos e o ensino das ciências

A poesia de Augusto dos Anjos e o ensino das ciências

1 de abril de 2022 Off Por funes

A poesia de Augusto dos Anjos e o ensino das ciências por Taiana Pedrosa de Arruda.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 01/04/2022.

 

Diante dos diversos problemas educacionais existentes no Brasil, é preocupante o crescimento do desinteresse e da passividade dos estudantes em sala de aula, fato que se torna evidente no que diz respeito às aulas de Física. Os parâmetros Curriculares Nacionais ressaltam que o ensino de Física precisa enfatizar a expressão do conhecimento através da resolução de problemas e da linguagem matemática. No entanto, para o desenvolvimento das competências sinalizadas, esses instrumentos seriam insuficientes e limitados, devendo ser buscadas novas e diferentes formas de expressão do saber da Física, desde a escrita, até a linguagem corporal e artística.

Acredita-se que propor a interação do estudante com a linguagem poética relacionada aos temas ligados a Física podem aproximá-lo da realidade e do seu cotidiano, fazendo com que haja uma melhor compreensão da disciplina pelos estudantes. Colocamos em prática um trabalho que favoreceu o estabelecimento de uma situação dialógica entre Ciência e Arte de maneira que a educação científica que se processa não fique limitada ao objeto do conhecimento, conforme nos indica a pedagogia de Paulo Freire que defende a educação não como a extensão dos conhecimentos técnicos, nem como a perpetuação dos valores de uma cultura dada ou tão pouco a transferência do saber, mas que se estenda ao sujeito cognoscente de forma coparticipativa.

Nesse contexto, o ponto de partida é a obra do poeta paraibano, Augusto dos Anjos, tendo como justificativa o conteúdo científico e filosófico presentes em suas poesias. Paraibano nascido no Sapé, Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos teve o primeiro contato com as letras através do pai, começando a escrever logo aos 7 anos de idade. O escritor chegou a dar aulas no colégio em que estudou, o Liceu Paraibano. Ele utiliza características formais pertencentes ao parnasianismo e ao simbolismo, mas o conteúdo busca aproximação com a realidade. É possível perceber a melancolia e o pessimismo nos escritos de Augusto dos Anjos, utilizando muitos termos científicos e médicos em seus escritos.

Percebe-se em seus poemas, que o autor acumulou conhecimento científico e os utilizou de forma consciente, sendo capaz de transmutá-los para a expressão lírica. Existem críticos que apontam como ponto forte da popularidade poética de Augusto dos Anjos seu vocabulário científico. O poeta produziu uma obra inconfundível, sustentada por uma cosmovisão que se formou em diálogo com significativas influências do século 9, tomando como base o pensamento de Comte, Schopenhauer, Goethe e Hegel, assim como as intuições de Baudelaire e Cesário Verde e as fortes teorias de Charles Darwin, Ernst Haeckel e Herbert Spencer.

Ao utilizar essa relação entre poesia e ciência, é possível motivar uma educação para a interdisciplinaridade, incentivar a capacidade de leitura e compreensão de textos produzidos em outras épocas, promover o aprendizado através da utilização de diferentes linguagens, fontes e recursos, refletir sobre a relação da obra de Augusto dos Anjos com a Ciência e fazendo com que o aluno perceba que a Física está presente também na Arte e Literatura. É essencial compreender a Física como uma expressão cultural, sendo que as relações entre Ciência, Cultura e Arte se entrelaçam no processo de criação humana, sendo importante e necessária sua abordagem no processo de ensino aprendizagem.

 

A ideia

 

De onde ela vem?!

 De que matéria bruta

Vem essa luz que sobre as nebulosas

Cai de incógnitas criptas misteriosas

 

 Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta

Do feixe de moléculas nervosas,

Que, em desintegrações maravilhosas,

 

Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,

 Chega em seguida às cordas do laringe,

 

Tísica, tênue, mínima, raquítica…

Quebra a força centrípeta que a amarra, Mas, de repente, e quase morta, esbarra

No molambo da língua paralítica!

 

É possível observar que o poema faz em sua última estrofe referência a força centrípeta, tema comum que sempre aparece nas aulas de Física. Também percebemos que a utilização da poesia de Augusto dos Anjos pode contribuir para o aprendizado dos estudantes, tornando as aulas mais interessantes e atrativas, ajudando também na leitura e interpretação, uma das necessidades fundamentais para compreensão dos fenômenos.