De Conceição do Piancó a líder político da PB

29 de maio de 2023 Off Por funes

De Conceição do Piancó a líder político da PB por Silvio Darlan.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 26/05/2023.

Visitando a prefeitura do município de Conceição (PB), encontramos quadros com fotos de todos os prefeitos ao longo de sua história política, que inicia no final do século 18. Na história quase sesquicentenária de Conceição do Piancó, nome que atrela as referências do catolicismo, em homenagem a padroeira da cidade, e Piancó, chefe da comunidade indígena,que predominava antes das primeiras habitações, é possível analisar considerações sólidas sobre a formação da identidade que se desenha até hoje.

Nos quadros em exposição na galeria dos prefeitos, os sobrenomes “Leite Braga” se repete no título de muitas fotografias. Percorrendo a cidade, vemos que construções públicas carregam o sobrenome “Leite” ou “Braga”, como próprio paço municipal Wilson Leite Braga, referendando o peso político e simbólico destes sobrenomes no poder local.

Político Wilson Leite Braga (1931-2020)

Político Wilson Leite Braga (1931-2020)

O cenário descrito, retrata uma cidade marcada pelo domínio de um grupo familiar durante um longo período, o que caracterizou uma elite política de caráter oligárquico. Aponta o conceito de elite política como é definido pela teoria das elites, sendo sinônimo aos conceitos de “classe política” utilizado por Gaetano Mosca e “elite dirigente” por Vilfredo Pareto. Elite política é entendida como um grupo organizado que ocupa o poder institucional e exerce influência na sociedade por possuir qualidades que são valorizadas socialmente. A história política de Conceição foi marcada pelo domínio dessas duas famílias, que em um determinado momento histórico, passa a ser uma única família com a chegada de Francisco de Oliveira Braga na década de 1920, e constitui família com Francisca Leite, filha do chefe político José Leite, que assumiu direta ou indiretamente o Executivo durante cinco décadas.

O salto estadual só chega quando um dos filhos deste casal, migra para a capital, da vinda de Conceição do Piancó, o estudante do curso de Direito se projeta para longe, Wilson Braga tinha apenas 21 anos, quando reuniu estudantes para cobrar do governo a construção de uma casa de apoio ao estudante em João Pessoa.

Sua primeira aparição na imprensa estadual foi no extinto Jornal O Norte, em 1952, na edição de 13 de janeiro, que destacava o seu entendimento com o governador José Américo de Almeida para construção da casa de apoio ao estudante, aparelho responsável por acolher estudantes que chegavam das mais diversas regiões do estado, em busca do tão sonhado diploma de curso superior, um privilégio para poucos, naquela época. Surge, naquele momento a construção quase que lendária, de uma das mais populares lideranças políticas da Paraíba. Em seu município de origem, não chegou a exercer nenhum cargo, mas suas habilidades políticas sempre foram decisivas para desenhar os resultados nas eleições.

Na política, ocupou os cargos políticos mais importantes, chegando a ser governador da Paraíba, quando o Brasil se preparava para desembarcar de uma ditadura militar, sempre foi considerado um político hábil, que passou por diversas agremiações políticas dentre elas Arena, PDS, PFL, PSDB, MDB e PDT, formando o seu próprio grupo, que, por sinal, foi um dos mais poderosos da Paraíba. Era casado com a ex-deputada Lúcia Braga com quem teve três filhos, Marcelo (falecido), Patrícia (falecida) e Marianna.

Wilson também explorou o viés social, facilitado pela sua esposa, que tinha grande habilidade em circular pelos bolsões de pobreza da capital, sendo mais tarde eleita primeira mulher deputada federal pela Paraíba. A participação efetiva de Lúcia Braga na campanha de Wilson se concretizou por meio de sua atuação junto ao MAF, movimento liderado por ela, destinado a mobilizar mulheres em prol da campanha braguista. Criado em maio de 1981, o Movimento de Ação Feminina, foi extremamente importante nas eleições de Wilson Braga. Na época, tendo Lúcia à frente, o movimento formava quase um partido, pois contava com cinco mil mulheres só na capital. Os interiores como Campina Grande, Patos e Guarabira, dentre outros, possuíam diretórios da MAF (O Norte, 25/11/1982).

Uma atuação essencial para tornar a figura do braguismo popular e atento aos interesses das comunidades mais distantes dos centros de poder. A meta é melhorar a vida do homem – a primeira-dama do Estado, Sra. Lúcia Braga, garantiu ontem “tornar realidade os compromissos assumidos com o povo em tempo de campanha política e que traduzem a meta prioritária do Governo de Wilson Braga – a melhoria da qualidade de vida do homem paraibano”’. Ao assumir a Fundação Social do Trabalho Dona Lúcia afirmou ainda que a capital tornou-se uma cidade virtualmente carente pela aceleração do fluxo migratório, entre o campo e a cidade, intervindo decisivamente na expansão das favelas (A União, 19/3/1983, p. 12). Teve como irmãos a ex-deputada estadual e ex-prefeita de Conceição, Vani Braga; o médico e ex-prefeito de Conceição, Walter Leite Braga; e a tabeliã Nice Leite Braga.

Em uma época em que nem se imaginava falar o termo “marketing político”, ele já trazia jingles que ficava marcado na memória das pessoas e que só precisava ouvir uma única vez para memorizar, uma sonoridade que trazia a mensagem do que era o seu governo, uma contraposição e crítica ao seu antecessor, em tom esperançoso. Seu discurso sempre foi marcado por uma imagem que denotava uma mudança radical na forma de ser fazer política, “uma política que sai do asfalto para as periferias”, que deixa “o luxo dos gabinetes com ar-condicionado, as mordomias, para juntar-se aos favelados”. Visando confirmar sua fala, Wilson também apresenta os programas que estaria desenvolvendo, como o Canaã, recuperação de hospitais, construção de unidades sanitárias e mutirão (Gazeta do Cariri, 8/1984).

Em uma das músicas dizia: “Já brilha o sol do novo dia, toda terra festeja alegria, todo o povo num grande mutirão” em referência a um programa social “mutirão” de seu governo, que anos mais tarde serviria de modelo em outros estados, inclusive para o próprio Governo Federal na política habitacional, uma tentativa de demonstrar a união entre o político e a população, sobretudo os mais necessitados. Wilson Braga assumiu o Governo do Estado em um período de forte crise econômica no Brasil, durante o governo do presidente Figueiredo. O país passava por um processo de abertura política que colocaria fim a ditadura, um acentuado momento de reivindicações e pressões populares e grandes transformações jurídicas e sociais.

Em 2020, ele morreu em consequência da Covid-19, com 88 anos de idade, o homem que arrastava multidões foi sepultado em João Pessoa com a presença de poucos familiares e alguns amigos, a data do seu falecimento é feriado municipal na sua cidade natal, Conceição do Piancó.