Otacílio Divino e o Cruzeiro do Sul

Otacílio Divino e o Cruzeiro do Sul

8 de novembro de 2022 Off Por funes

Otacílio Divino e o Cruzeiro do Sul por José Romildo de Sousa.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 02/09/2022.

 

A cidade de Patos sempre ocupou um lugar de destaque no cenário da radiofonia paraibana e tudo começou na década de 1930 com o serviço de som de Sinfrônio Azevedo e depois com o inolvidável Mané Lino, que adquiriu esta difusora, e passou a comandá-la com a denominação de “A Voz das Espinharas”, que foram reconhecidamente autênticas “escolas” para muitos dos locutores que se tornaram notáveis na memória do rádio na Morada do Sol.

Outra difusora que também abastecia os patoenses de muita música e informações era a difusora Cruzeiro do Sul, de propriedade de Otacílio Monteiro, que funcionou por vários anos na Rua Peregrino de Carvalho, no local onde se encontra instalado atualmente o Supermercado do Foguete.

Otacílio Monteiro, também chamado pelos membros da comunidadeonde se encontrava inserido de Otacílio Divino que, além de locutor da sua difusora, era jogador de futebol e um homem cheio de “invenções”.

Era popularmente conhecido como “O Homem do Globo de Cristal”, uma vez que era sempre consultado nos casos mais difíceis de serem desvendados; como em desaparecimento de dinheiro, separações amorosas e até sobre resultados de pleitos eleitorais. Sempre nos fins de semana organizava brincadeiras em frente de sua casa, a exemplo de quebra-panela e, a grande atração era a gincana das bicicletas que os concorrentes tinham que realizar: um determinado percurso sem derrubar os tijolos que ficavam emparelhados, um ao lado do outro e o ciclista tinha que passar no meio deles, sem derrubá-los. Quando o concorrente não atingia o seu objetivo, levava uma grande vaia.

Naquela época podia-se encontrar em Patos bicicletas de aluguel, para se dar umas voltinhas, sendo cobrado o valor da “pedalada” pelo tempo consumido. Existiam lugares onde as alugavam na Rua 18 do Forte, pelo Senhor Birô e na Leôncio Wanderley com Seu Pombal e Otacílio das Bicicletas.

Residindo na esquina que dava para o mercado público, Otacílio Divino criou também banheiros para serem usados pelas pessoas que transitavam pela localidade. E tinha até uma cigarra que ele acionava quando o “sujeito” estava demorando um pouco mais no banho.

Quanto ao estúdio da emissora Cruzeiro do Sul, funcionava mesmo na sua residência que se denominava de “Vila Monteiro”. A difusora tinha uma grande quantidade de altosfalantes dispostos nos postes da rede elétrica e em diversas artérias da cidade, a exemplo da Rua Solón de Lucena, Rua do Prado, Alto Casteliano, Rua da Baixa e em pontos estratégicos de certos bairros.

A programação daDifusora Cruzeiro do Sul era montada e tinha a locução de Otacílio Divino e, tempos depois, pelo seu filho Gilson Monteiro. Começava logo cedo com Manhã de Saudade, no qual vários representantes do cancioneiro popular, a exemplo de Ataulfo Alves, Alcides Gerardi, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Silvio Caldas, Francisco Alves, entre tantos outros, desfilavam com suas consagradas composições.

Às 18h, era levado ao ar a Hora do Ângelus. Enquanto a noite não vem era o programa que iniciava a noite na difusora com uma seleção variada de músicas românticas.

A partir das 19h, a difusora entrava em cadeia com a Rádio Nacional para retransmissão do noticiário A Voz do Brasil.

De alguém para você era o programa de maior audiência da difusora, começava a partir das 20h e nele eram oferecidas músicas e feitas declarações amorosas, sempre sendo utilizadas as letras dos nomes das pessoas destinadas para que as mesmas não fossem identificadas pelos ouvintes.

A difusora encerrava a sua programação com A hora da Saudade, uma sequência musical dos grandes cantores brasileiros, entre eles, Herivelto Martins, Noel Rosa, Adoniran Barbosa e Ângela Maria.

A difusora Cruzeiro do Sul encerrou em definitivo suas atividades na década de 1970.