A Festa de Setembro

A Festa de Setembro

23 de março de 2022 Off Por funes

A Festa de Setembropor  José Romildo de Sousa.

Texto extraído da coluna Funes do Jornal a União publicado na data de 24/09/2021 .

 

A tradicional Festa de Setembro dedicada a Excelsa Padroeira N. S. da Guia, acontece há muitos e muitos anos na cidade de Patos, Estado da Paraíba. Entretanto nem sempre ocorreu no mês de setembro, uma vez que existem registros de festas “da Guia”, realizadas nos meses de outubro, novembro e dezembro. Ressalta-se que até o início do século 20 acontecia apenas o novenário às 18h, em seguida os fiéis se deslocavam para a frente da Igreja Matriz, atual igreja da Conceição, onde assistiam no patamar a um show pirotécnico e em seguida retornavam para os seus domicílios. Segundo depoimento do Major Sebastião Fernandes, somente em 1913 foi realizada em Patos “a primeira Festa da Padroeira com passeio”.

A Festa de Setembro faz parte do calendário cultural e religioso da cidade e do Estado, configura-se como o principal evento anual da localidade e apresenta uma programação que se desenvolve durante 10 dias, de 14 a 24 de setembro, composta de uma parte religiosa, que se inicia antes de setembro, com a visitação da imagem de Nossa Senhora da Guia em residências de patoenses na capital paraibana e em diferentes instituições e domicílios da cidade de Patos.

A abertura é marcada pela realização de uma carreata em homenagem à Padroeira e a São Cristóvão, percorrendo as paróquias e culminando na Igreja Catedral, seguida do hasteamento da bandeira, que tremula na torre da Matriz enquanto perdura a festa. Durante nove noites, os fiéis participam do novenário a partir das 19h. No encerramento é realizada a procissão com a imagem de N. S. da Guia, seguida da missa e descerramento da bandeira.

A parte social da festa, retrata a alegria do nosso povo, ao longo da história, com cenários diversificados, que ressalta as manifestações culturais, oportunizando o encontro de diferentes gerações. Com o advento da Filarmônica Municipal 26 de Julho em 1931, a festa tomou um grande impulso no que se refere a sua programação social, realizando a alvorada, tocando o hino de N. S. da Guia, participando do hasteamento da bandeira, do novenário, e do coreto armado ao lado do pavilhão da festa.

Outras atrações foram sendo agregadas, tais como: as retretas, os parques de diversões, a “bagaceira” e as barracas que preenchiam os espaços de ruas e avenidas da cidade que não paravam de crescer. O pavilhão era armado em plena avenida Sólon de Lucena, bem em frente a igreja Matriz de N. S. da Guia, servindo de ponto de encontro para toda a sociedade patoense, bem como da população dos municípios circunvizinhos, que ali se reuniam para conversar e se confraternizar naquele ambiente alegre, motivado pelos leilões e arremates de galinhas, música ao vivo, entre outras atrações.

Num tempo não muito distante, o pavilhão era divido em duas partes, distribuídas para agremiações, representadas de um lado pelo pavilhão encarnado, das camponesas, das mexicanas; e do outro lado pela cor azul, das baianas, ou holandesas, cujas garçonetes se caracterizavam de acordo com a sua agremiação, o ponto culminante era a coroação da Rainha da Festa.

Merece destaque o registro dos responsáveis pelo pavilhão. Havia a noite dos profissionais liberais, dos industriários, comerciantes, que não mediam esforços para garantir o sucesso da festa. A retreta foi idealizada pelos jovens da época, caracterizava-se pela participação dos rapazes que ficavam perfilados ao longo da avenida, em fila dupla, abrindo espaço para que as moças desfilassem entre eles, com todo o encantamento e beleza, resultando em paqueras, podendo evoluir para o namoro, resultando muitas vezes em casamentos consolidados.

Com a evolução dos tempos e a inserção de barracas nas avenidas Sólon de Lucena e Epitácio Pessoa, as retretas deixaram de fazer parte do cenário da Festa de Setembro, ficando na lembrança de todos que viveram nesse tempo. Também merece destaque a famosa “bagaceira”, que em contraste com o pavilhão oficial da Festa de Setembro, abrigava as pessoas com menor poder aquisitivo, que também optavam por participar das diversões.

 Durante muitas décadas, ocupou diferentes espaços entre ruas e avenidas no centro da cidade, tais como, a avenida Bossuet Wanderley, rua João da Mata, rua Rui Barbosa, ao lado do Patos Tênis Clube e, nos últimos anos, em frente ao Sacolão. Consistia em barracas, com estrutura de papelão e cobertas com palha de coco.

Seu cardápio era composto de cachaça, acompanhada de caju, tripa assada, peixe frito e preá. Entre as barracas mais visitadas o Bar Cova da Onça, tinha como proprietário o comerciante conhecido como Jardineiro. Os parques de diversão alegraram as Festas de Setembro por muitas décadas. Dois deles, ganharam notoriedade, por propiciar uma diversidade de brinquedos e animação para todas as gerações. O parque Lima e o Parque Maia, com seus carrosséis e a roda gigante.

As canoas e a onda marinha eram uns dos equipamentos mais procurados pelos jovens e o “Juju” de seu Sebastião Duda alegrava a meninada. Os jornais da Festa de Setembro, caracterizam-se como um meio de comunicação eficaz para registrar os acontecimentos sociais existentes em cada noite, acompanhados de sátiras e fofocas.

A antiga avenida Sólon de Lucena abrigou historicamente o pavilhão da Festa de Setembro na cidade de Patos. A chegada do século 21 revela o desenvolvimento social e econômico de cidade, com destaque para a construção do Largo Dom Gerardo, que a partir da sua inauguração passou a ser um espaço privilegiado para acolher a programação sociocultural alusiva a festa de setembro. Em substituição ao pavilhão, foi estruturado um palco para as apresentações culturais e barracas foram distribuídas ao longo do largo, oferecendo aos participantes uma vasta gastronomia para serem deliciadas pelos mesmos.

 A programação da festa contempla em uma de suas noites um jantar de confraternização, para todos os paroquianos, muito prestigiado por toda sociedade e seus visitantes que nessa época renovam a sua fé, e reencontram seus familiares e amigos. No ano passado e neste 2021, a programação da Festa de Setembro sofreu alterações em decorrência das medidas sanitárias adotadas para conter o avanço da covid-19. Os meios de comunicação disponíveis se responsabilizaram pela transmissão do novenário, que contou com um público expressivo, fiel e devoto a Nossa Senhora da Guia.